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Acupuntura como Permacultura

Artigo traduzido do orginal ACUPUNCTURE AS PERMACULTURE elaborado por Steve Wheeler, que pode ser visto aqui

“A process as described is not the process as it exists;
The terms used to describe it are not the things they describe.
That which evades description is the wholeness of the system;
The act of description is merely a listing of its parts.
Without intentionality, you can experience the whole system;
With intentionality, you can comprehend its effects.
These two approach the same reality in different ways,
And the result appears confusing;
But accepting the apparent confusion
Gives access to the whole system.”

Dao De Jing, Chapter 1, trans. John Michael Greer

 

Permacultura flor banner

 

 

O termo “permacultura” deriva de “agricultura permanente”, foi criada por Bill Mollison e David Holmgren para descrever a filosofia de design ecológico desenvolvida pelos prórpios na década de 70. Desde então a permacultura cresceu e tornou-se em um movimento a escala mundial com inúmeras pessoas a treinar e aplicar os seus princípios.

Embora bastante esclarecido sobre ecologia e sistemas teóricos modernos, Mollison observou a influência específica do Daoismo na sua filosofia de base. Confrontado com as crises convergentes de destruição ecológica, erosão do solo, esgotamento dos combustíveis fósseis e o crescimento insustentável da população e da indústria no planeta, procurou desenvolver uma forma de agricultura resiliente que iria trabalhar “com e não contra a natureza“, com uma “observação prolongada e atenta ao invés de uma ação rápida e impensada, uma agricultura que se preocupa com a natureza e as pessoas em todas as suas funções, permitindo que os processos evolutivos ocorram de forma natural e espontânea.”

Assim como o permacultor, o acupuntor tradicional também trabalha com um sistema ecológico bastante complexo – o corpo humano. Ambos procuram interagir com o ecossistema de uma maneira mais holística, responsável e menos bruta e cruel que a prática comum no mundo industrial.

Na verdade, muitos dos insights dos sistemas teóricos – por exemplo a interdependência das múltiplas funções e elementos, ou a importância de reconhecer os padrões emergentes de todo o sistema – já estão incorporados na prática médica tradicional e são a segunda natureza para o acupuntor treinado nas teorias dos cinco elementos e zang-fu. Dado que o pensamento filosófico Daoista é partilhado na base de ambos os sistemas, não surpreende que a comparação entre a filosofia Oriental com os sistemas de permacultura e a medicina tradicional oriental revelem padrões familiares e insights inesperados como:

Observar e Interagir:

Na compreensão do Wu Wei, a primeira função do permacultor é não fazer nada. Abstendo-se de qualquer intervenção prematura, ganha a oportunidade de observar a paisagem e aprender como ela funciona – onde corre a água da chuva, onde o sol desce e a sombra aparece, o que cresce em determinado local, e como estes fatores alteram-se com as estações.

O acupuntor faz o mesmo, no primeiro encontro adota uma postura calma e passiva, de maneira a não impor as suas próprias ideias no paciente, esperando que a essência do ser se revele por si própria – embora o acupuntor não possa esperar um ano para tratar o paciente, é indispensável que tenha sensibilidade temporal, ou seja, o paciente não será tratado durante o inverno e verão da mesma maneira, ou durante o fim do dia de sexta-feira e a manhã de segunda-feira.

O princípio da permacultura é “observar e interagir”, pois é nas pequenas interações iniciais que o permacultor aprende como a terra irá responder às interações maiores. Da mesma maneira, é no primeiro aperto de mão, no cumprimento e na forma como o paciente se acomoda na cadeira que o acupuntor começa a relacionar os padrões energéticos, equanto que na tomada do pulso já se começa a construir uma imagem do macrocosmo da saúde energética do paciente.

Wu wei (chinês tradicional: 無為 – wúwéi; chinês simplificado: 无为; traduzido para o português, significa não ação) é o princípio prático central da filosofia taoista. Corresponde a um modo de viver que tem, por objetivo, reconquistar um estado de harmonia perfeita com o Tao (o princípio oculto que rege o universo, segundo a filosofia taoista). É um modo de viver que consiste em não fazermos nada de “artificial“, convencional ou exclusivamente voluntário, e em nos comportarmos sem tentarmos forçar as coisas a serem como desejamos, ou seja, em termos uma conduta completamente serena, sem esforço e sem tensão, sem interferência no curso natural dos acontecimentos. Em outras palavras, consiste em se evitar qualquer ação desnecessária.

Wu pode ser traduzido por “não”, “nunca”, “sem”, “nada”, “vazio” ou “não existência”; wei pode ser traduzido por “fazer”, “agir”, “servir como”, “governar”. O significado literal de wuwei pode, portanto, ser traduzido como “sem acção” ou “sem agir” e é, muitas vezes, incluído na expressão paradoxal wei wu wei (爲無爲 ou 为无为): “acção sem acção” ou “agir sem agir“.

O problema é a solução:

Dentro de um sistema complexo, os problemas não surgem de forma independente ou de causa única, são pelo contrário, produtos de desequilíbrios multifatoriais. Soluções que simplesmente suprimem a manifestação superficial do desequilíbrio, raramente resultam na saúde e homeostasia de todo o sistema. A abordagem da permacultura é de reconhecer que o aparente problema pode ser interpretado, como uma fonte fiável e rica de informação sobre os excessos e deficiências de recursos que o sistema apresenta. A solução passa por redirecionar e aproveitar estes recursos nos locais onde podem favorecer a produção.

Isto significa por exemplo, transformar “ervas-daninhas” em salada ou sopa, encontrar soluções criativas para o excesso de madeira, reciclar os restos alimentares ao dar de comer aos porcos ou fazer com que o calor da superfície penetre para o interior de forma a nutrir o centro corpo. Como diz o ditado: “There’s no such thing as too many slugs; only not enough ducks.”

Fazendo o mínimo de esforço para o maior dos efeitos:

No Tai Chi é referido que “quatro onças prevalecem sobre mil libras”. Intervenções em momentos críticos podem causar alterações no funcionamento de todo o sistema quando a subtileza dos ritmos e interconexões de um sistema complexo são compreendidas. A acupuntura é a manifestação deste conhecimento – a utilização de uma pequena agulha para interagir com o funcionamento de todos os microssistemas do corpo. Podemos entretanto, aprofundar o nosso conhecimento considerando como estas mesmas ideias funcionam na permacultura.

Ao invés de forçar os componentes agrícolas para uma estrutura preordenada, o permacultor foca-se em canalizar os fluxos energéticos e crescimentos existentes dentro de padrões mais produtivos possíveis.

É necessário reconhecer que muitas vezes o ecossistema possui vontade própria e que tentativas de ideais e padrões impositivos podem ser altamente contraproducentes.

Em regiões de clima temperado, o clímax do ecossistema move-se naturalmente para as zonas antigas de floresta. A agricultura industrial consiste em muitos aspetos no esforço contínuo e resistente a este movimento natural e espontâneo da natureza. A permacultura por outro lado aceita e trabalha subtilmente para guiar e modelar este movimento em benefício da própria natureza e dos humanos que a coabitam. O resultado é um jardim florestal onde a biodiversidade, resiliência e eficiência do ecossistema é utilizado para fomentar a produção de plantas comestíveis com a mínima intervenção e esforço.

Devemos também nós como terapeutas, reconhecer que o sistema com o qual trabalhamos – corpo humano – também possuí vontade evolutiva própria. O padrão de saúde integral para o qual caminha, pode não ser aquele que tenhamos em mente. Ao reconhecer que o ser humano é e faz parte da natureza assim como a flora e que ambos interagem aos mesmos complexos padrões de equilíbrio e crescimento, pode ajudar-nos a confiar na capacidade de auto cura e auto-organização da natureza.

A reter: o nosso trabalho enquanto terapeutas, passa por remover os obstáculos criados pelo próprio sistema de regulação do organismo e auxiliar o retorno ao seu equilíbrio natural, para que possa assim manifestar padrões de saúde e sustentabilidade.

Utilize soluções pequenas e lentas:

Na permacultura, aumentar o tamanho e a velocidade requer mais intervenção e energia. Todo o sistema deve ser considerado holístico e o que vemos na agricultura convencional é a redução da eficiência, produtividade e longevidade do ecossistema local, em troca de ganhos rápidos através do cultivo a curto prazo.

Intervenções abruptas e grandes – como inundar o campo com pesticidas ou a destruição da flora para o cultivo de gado – causam graves perturbações em todo o sistema, gerando ainda problemas secundários que certamente irão exigir gastos fixos no futuro. Ao contrário, uma produção onde tudo se procede de forma mais lenta e diminuta, cria condições paea que o ecossistema possa operar com mais eficiência, retendo ainda mais energia para seus ciclos energéticos e nutritivos.

Normalmente não são bem-sucedidas as tentativas de ampliação dos projetos de permacultura para a escala das grandes produções do negócio agronómico. Quanto maior o projeto, maiores são os custos administrativos e necessidades tecnológicas, que por sua vez tornam o permacultor menos capaz de se manter numa relação de proximidade e responsabilidade com a terra e os seus dinamismos.

Igualmente na acupuntura, o praticante que atende um grande número de pacientes em pouco tempo, destinam-se a perder o contato e o fio condutor das singularidades dos processos dinâmicos de cada paciente. A lógica do capitalismo impulsiona a grande maioria dos negócios para o crescimento financeiro desenfreado e desregrado – porém na acupuntura, quando o “negócio” cresce dessa forma, não só os tratamentos perdem qualidade, como toda a simplicidade e genuinidade da prática se desvanece, caindo facilmente na rede das distrações sociais e económicas da sociedade atual.

Os pacientes possuem normalmente, uma relação bastante impaciente aos tratamentos de acupuntura. Isto acontece pela habituação aos modelos de medicina industrial e esperam assim resultados rápidos, mesmo que não sejam duradouros. Por conta disto, encontramo-nos por vezes a pedir desculpas pela natureza gradual e nem sempre tão rápida dos nossos tratamentos. Devemos pelo contrário, abraçar esta caraterística da nossa prática. Assim como o cultivo de vegetais e a construção de uma casa, para que perdure por gerações requer uma abordagem mais lenta porém intensa, também o acupuntor procura propiciar a saúde sustentável do organismo através de pequenas e duradouras alterações em todo o sistema.

Contexto:

Como disse o filósofo Ken Wilber: “Tudo é contextual – e não há fim de contextos”. “Permacultura” teve o seu significado inicial derivado de “agricultura permanente”, sendo mais tarde renomeada para “cultura permanente”, logo que os praticantes se aperceberam que as suas filosofias agrícolas não poderiam ser separadas do âmbito social, cultural e político. Desde então foram muitas as pessoas que aplicaram os princípios da permacultura – que pode ser vista como a consolidação dos padrões universais do Dao – nos negócios, relacionamentos, comunidades e sociedades.

Da mesma forma, é fácil para o acupuntor introduzido no ocidente industrial, ser ele próprio limitado ao ponto de tornar-se um mero técnico de inserção de agulha, cuja intervenção inicia e termina na porta da clínica. Porém, as temáticas de pensamento holístico nucleares na nossa prática tornam impossível de se ignorar o facto de que cada parte da vida do paciente está implicada na sua condição e que as mudanças feitas por nós em clínica, durante o tratamento, podem facilmente ser sobrepostas pelo estilo de vida, trabalho, relacionamento ou inclusive pelo meio ambiente.

Necessitamos, claramente, de ter atenção acerca dos nossos limites profissionais – não somos (muitos de nós) formados nas áreas da nutrição, psicoterapia ou ergonomia, não devemos, pois, ultrapassar o limite que nos compete. Não devemos também, deixar que sejamos excessivamente influenciados pela dominante ideologia da especialização e segmentação, que nada mais é do que produto da mesma linha de pensamento linear e fragmentar que derivou dos excessos mecanicistas e químicos resultantes da associação da Biomedicina ocidental a indústria agrícola. Por causa dessa mesma – forte – influência, muitos dos nossos pacientes perderam a capacidade de se conectar com o holístico e com todos o sistema de reconhecimento de padrões – a permacultura pode ser aplicada nas suas vidas, da mesma forma e com a mesma eficácia que o permacultor realiza com a floresta.

Zoneamento:

Um exemplo sobre este tópico: muitos pacientes necessitam de realizar mais exercício físico ou talvez apenas alguns alongamentos ao acordar, mas o ginásio está do outro lado da cidade e chão do quarto está demasiado atravancado para fazer exercício, desta forma muitas das pessoas acabam por ignorar a ideia e a necessidade do exercício. A permacultura organiza a terra agrícola em 5 zonas concêntricas ao núcleo vivo do espaço, sendo as zonas próximas ao núcleo aquelas que mais frequentemente necessitam de atenção. Os pacientes podem ser encorajados a organizar as suas vidas com estes mesmos princípios, para que assim a distância e o inconveniente não sejam mais motivos de sabotagem aos planos diários. O exercício pode ser realizado a volta do jardim de casa ou ainda rolar da cama até o chão e realizar ali os seus alongamentos.

Zoneamento é de uma maneira mais abstrata, a gestão eficiente da energia. Há por vezes uma relação particular que é apenas importante para a pessoa em questão e que requer muito tempo e energia. Em muitos casos, existe na vida da pessoa uma fonte – atividade, oportunidades ou outra pessoa – que está mesmo “a sua frente” facilmente acessível e frequentemente ignorada. Se é do nosso desejo ajudar o paciente a organizar a sua energia com padrões de vida mais produtivos, de nada serve e não faz sentido nenhum apenas punturar o ponto E-36 (Zusanli) todas as semanas e ignorar o facto de que existem fontes que dissipam e consomem a sua energia no seu dia-a-dia.

Arestas:

Finalmente, uma das ideias mais intrigantes da permacultura é a maximização das arestas que ao reconhecer que a diversidade e a fertilidade são maiores em zonas ecológicas de transição como as zonas costeiras, estuários de maré e zonas de fronteira entre floresta e campo de pastagem, procura oportunidades para aproveitar e maximizar estas “áreas de arestas” na sua própria terra.

Isto pode ser tão simples como ter um riacho repleto de curvas ao invés de tê-lo em linha reta, ou intercalar um pomar com pastagem ao invés de tê-los em blocos separados. Significa também, valorizar as fronteiras/arestas entre diferentes tipos de conceitos, como por exemplo a cultura e erva daninha.

As arestas são presenciadas na acupuntura logo no encontro terapêutico – como o paciente entra ou deixa o espaço, o estado da pessoa no início e no fim do tratamento, no diagnóstico do pulso e por exemplo no momento em que a agulha toca na pele. Além das arestas no gabinete de tratamento, encontramos fronteiras/arestas na maneira como a nossa prática interage com outras áreas, com a comunidade local, com o mundo todo e ainda o papel que a nossa profissão interage com a nossa vida fora da clínica.

É muito frequente ignorarmos estes espaços transitórios para focarmos blocos mais óbvios de espaço e atividade. Prestar mais atenção nestas arestas presentes na nossa prática diária, permite que se consiga ver e identificar oportunidades escondidas ou permitir que os nossos tratamentos se tornem mais vivos e responsáveis. Devemos permitir que a nossa carreira suporte e seja nutrida pelos restantes aspetos da nossa vida e que a nosso espaço, a nossa clínica, esteja conectada com todo o mundo.

 

Fontes:

http://permacultureprinciples.com/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Wu_wei

http://www.scholarsage.com/permacupuncture/

SP Clinic corpo&mente – Clínica e Centro de acupuntura em Lisboa, no Largo do Rato e próximo das Amoreiras e Campo de Ourique. Tratamentos com acupuntura. No centro de Lisboa, perto de si.

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